terça-feira, 7 de outubro de 2014

Juntos, até o fim!



Italvino e Diva receberam a bênção do padre em uma igrejinha do interior do RS, há 65 anos, e cumpriram exemplarmente a promessa de se amarem na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separasse. Na sexta-feira, o aposentado e a dona de casa se despediram da vida do jeito que sempre a percorreram: de mãos dadas.
Aos 89 anos, Italvino Possa enfrentava, desde 2013, uma leucemia que lhe minguava as plaquetas. Em abril deste ano, Diva, 80, descobriu um tumor na bexiga cujo prognóstico, ruim, a obrigou a ocupar um quarto desde lá no Hospital São Lucas, em Porto Alegre, onde também, de tempos em tempos, o esposo era submetido a transfusões de sangue. Mesmo debilitado, ele não perdia as esperanças de recebê-la de volta na casa do bairro Jardim Itu Sabará, na zona norte de Porto Alegre, onde costumavam reunir família e amigos para comer guloseimas e jogar conversa fora.
Italvino sempre procurou esconder da companheira a gravidade do seu estado de saúde. Não queria preocupá-la. Na quarta-feira à tardinha, dona Diva, quase silenciada pela doença, pediu para reunir seus queridos: marido, 10 filhos, 14 netos, seis bisnetos. 


— Foi uma despedida — interpreta Rafael de Freitas, um dos netos do casal que se conheceu num "bailinho de interior" e começou, humilde, a construir seu patrimônio plantando tomates em uma terra cedida por um conhecido, na década de 50.
Durante o encontro, seu Italvino chorou.
— Ele suplicou que a mãe não o deixasse e pediu perdão por qualquer erro — relata uma das filhas, Veramar Possa, 52 anos.
Na madrugada, já em casa, ele chamou pela mulher no meio do sono. Enquanto isso, o câncer desligava o último órgão que ainda vivia em Diva, o rim. Na telepatia do fim, o idoso teve uma hemorragia e pediu para ser internado — uma surpresa para o médico nefrologista Fernando Tettamanzy.
— Brincávamos que ele vivia se esquivando de mim, pois relutava muito em ficar internado. Penso que quis isso para acompanhar os últimos momentos da companheira — afirma o médico.
Uma enfermeira tratou de colocá-los no mesmo quarto. Mais: juntou as duas camas. Como em uma resposta automática, os dois se deram as mãos.
— Aperta a mão da tua namorada e tenta ficar calmo — sugeriu a enfermeira ao idoso.
Seu Italvino morreu em poucos instantes. Dona Diva não demorou a acompanhá-lo: se foi 45 minutos depois.
— Ele era tão educado que, até na hora da morte, abriu a porta para ela — descreve Tettamanzy, definindo o casal como um exemplo de cumplicidade, doçura e retidão.
   
Penso que assim que deveriam ser todos os casais, mas, infelizmente, muita coisa acontece e muita coisa se deixa acontecer para que  prejudique a acabe relações.
Que sirva de exemplo esse belo casal gaúcho.