Lá pela metade dos anos 60, meu pai chega em casa com um
possante Pontiac, 1952, azul escuro (ou era verde escuro?) e avisa a
todos. Éramos 5: vamos pra praia amanhã. Ele era radialista, quase que autônomo,
e só tirava uns dias por ano, de férias. E tava na hora. Eu e meu irmão corremos pra pegar nosso calções de
elanca. Minha irmã, que era mais velha, meio que não queria ir, pois todas suas
amigas ficariam.
Mas só nós 5 era pouco. Minha tia com marido e duas filhas
também iam. E no mesmo Pontiac. Ah, a vó Elsa não podia faltar, afinal ela
cuidava dela e de todos os 5 netos. Acreditem, 10 pessoas num carro só. A
estrada era a de Santo Antonio, onde se parava pra pegar mais água pro carro,
encher pneus, mais óleo e, é claro, comer um sonho recheado e beber guaraná.
O destino só meu pai sabia, acho. Pra nós tanto fazia, pois
o negócio era a praia, o mar, a liberdade maior. Chegamos então, em Mariluz,
uma praia que passava de Tramandaí (a
gente imaginava que depois da ponte não tinha mais nada). Era uma casa aqui,
outra lá e mais outra acolá. Dava pra ver todas as casas da praia. Mas a nossa
tava lá, já erguida, com nome até: Ponderosa (que era o nome do Rancho daquela
família da série Bonanza). Tarefas divididas: as minha mãe, Tia e avó cuidavam
da casa, comida, roupa, limpeza. A piazada só brincava e ia pra beira do mar.
Os homens não faziam nada e ficavam fumando Continental sem filtro.
Apenas um “armazém” pra abastecer o local, mas lembro que
tinha de tudo, até pão de meio quilo (semolina), quentinho.
A noite ficava frio, um vento forte, que nos forçava a dormir
de cobertor. A casa não tinha muro e muitas vezes alguém via uma vaca ou um
cavalo bem próximo das paredes.
A água era de poço e tinha uma bomba que a gente conseguia
tirar o líquido pra tomar ou fazer comida. Para arrumar qualquer coisa que
estragava, tinha o sr. Potoca, que atendia a todos da praia. Aos poucos
vizinhos foram chegando. Os donos da Cerealista Douradense, de Canoas e no
outro lado os de uma fábrica de miniaturas, de Caxias.
A gente continuava comendo goiabada Mumu, tomando Minuano
Limão, Bingo Cola ou Grapete, todos dos Vontobel, naquela época começando no
ramo.
Assim , com carro cheio, muito calor, com água mineral
Charrua que fomos e voltamos por muitos anos para a praia, que naquele
tempo, poucos conheciam.
A Mariluz que eu, meus irmãos e minha primas amávamos, hoje
é uma grande praia, que nada tem daquele glamour e do ar simples que tanta
saudade temos.